#BeeHybrid: Manifesto do Trabalho Híbrido

Por Mário Verdi e Fernanda Belo

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Passado um ano de normalidade após a pandemia do COVID-19, já podemos entender um pouco melhor as questões relacionadas ao impacto deste evento no mundo do trabalho.

A primeira grande novidade, foi a experiência global com o trabalho remoto. Após 2 anos neste modelo, pelo menos uma coisa trouxe consenso: nem totalmente remoto, nem totalmente presencial, o futuro do trabalho será híbrido. No entanto, um ponto a discutir é o próprio conceito do que seria o chamado Modelo Híbrido. Muitos avaliam este conceito levando em consideração apenas fatores ligados à quantidade de trabalho em cada local, quase sempre definindo número de dias em remoto ou presencial. No entanto, o que deve definir o modelo ou formato ideal depende da própria definição e significado de TRABALHO.

Entendemos que, equivocadamente, alguns avaliam o trabalho como mera execução de tarefas e, portanto, defendem que este trabalho possa ser executado de qualquer lugar. Por outro lado, muitos estudiosos, e me insiro dentre estes, entendem o trabalho como um fenômeno social mais amplo, que envolve, além da execução de tarefas, a constante colaboração, a troca que fomenta ensino e aprendizado, a interação social, comunicação, descontração, competição, status, inspiração e outros fatores, como realização pessoal. Podemos, sim, executar tarefas individuais de qualquer lugar. Ou até mesmo realizar algumas atividades em grupo de forma online, com boa performance. Mas trabalho não são apenas entregas. Diversos estudos já apontam a queda de performance no trabalho remoto, o aumento de problemas como o isolamento social e o burnout, além do prejuízo na integração e aprendizado para os iniciantes e novos contratados, que acabam ficando isolados no modelo remoto.

Outro fator importantíssimo é o enfraquecimento da cultura organizacional, ingrediente crucial para o engajamento e senso de pertencimento em empresas com propósito e com desempenho acima da média. Arrisco dizer que, a longo prazo, até mesmo a sobrevivência de uma organização possa correr riscos caso esta equação não seja bem planejada. Importante reforçar que esta realidade é ainda mais impactante em empresas menores, de alta performance, como as startups. Pesquisa coordenada pelo professor Steve Blank, conhecido como papa das startups, afirma que startups em modelo presencial ou híbrido, crescem 3,5x mais que as empresas em modelo 100% remoto. Nestas empresas nascentes, a cultura está sendo construída ou maturada, e o impacto negativo desta fragmentação é evidente.

Desta forma, buscando provocar uma discussão mais ampla e apresentar uma posição crítica frente a alguns defensores do trabalho exclusivamente remoto, escrevo este manifesto sobre o modelo híbrido:

1. SOBRE A RELAÇÃO PESSOAL COM O TRABALHO

Gostar ou não do seu trabalho não deveria definir qual modelo é melhor ou pior. Esta questão é individual, e deve ser resolvida pelo livre arbítrio de buscar fazer algo que o realize enquanto indivíduo e ser social. Algumas pessoas entendem o trabalho como mera venda de mão de obra enquanto outras entendem como parte de sua realização pessoal enquanto indivíduo. Todos estão livres para escolher aquilo que melhor se adapte às suas necessidades e desejos e, inclusive, podem construir empresas baseadas nessa visão. E está tudo bem.

2. SOBRE O QUE É TRABALHO HÍBRIDO

Híbrido não é trabalhar alguns dias em casa e outros no escritório. Híbrido significa ordenar o trabalho em termos de qualidade e não quantidade. Significa organizar os tipos de trabalho, definindo momentos para execução de tarefas que requerem concentração – que podem ser executadas de forma individual, e definindo encontros presenciais para momentos de interação, colaboração, aprendizado e troca, onde o contato físico faz total diferença na quantidade e qualidade das interações. Não faz nenhum sentido deslocar pessoas para o escritório para executarem tarefas individuais ou ficarem a maior parte do tempo conectadas via Teams ou Zoom.

3. SOBRE A VISÃO DOS COLABORADORES E DOS LÍDERES

De forma geral, os colaboradores estão mais focados no curto prazo, enquanto líderes tem um olhar mais voltado ao médio e longo prazos. Desta forma, fica muito difícil para os colaboradores entenderem o impacto que o trabalho remoto possa estar causando na performance geral de uma empresa. Não existe nenhuma possibilidade de uma empresa estabelecer uma cultura de alta performance sem 3 fortes pilares: objetivos e metas claros, engajamento no trabalho em equipe, e cultura organizacional forte. O trabalho exclusivamente remoto enfraquece estes 3 pilares e você, colaborador, muitas vezes não percebe isso. Como exemplo, acredito que o pessoal de TI, principalmente desenvolvedores, não consiga avaliar o tema de forma isenta, já que vivem uma situação completamente diferente do resto das profissões. Para completar, essa carreira possui grande parte das atividades adequadas ao modelo remoto. Mas atenção: em qualquer profissão, as grandes decisões estratégicas e trocas construtivas acontecerão, ainda, em uma sala com pessoas presentes. Se você nunca for chamado para uma, reflita.

4. SOBRE PRODUTIVIDADE

Produtividade não é uma métrica uniforme ou linear. Ela varia por inúmeras razões: questões pessoais, questões ambientais, questões biológicas e muitas outras. Mas é impossível dizer que alguém é sempre mais produtivo em casa ou no escritório. A produtividade está sempre ligada ao tipo de atividade a ser executada, frente a todas as variáveis que podem influenciar seu desempenho. Você não precisa se deslocar até o escritório para elaborar uma planilha financeira, mas não é aconselhável ficar em casa conectado de forma online para montar um planejamento estratégico ou criar uma campanha.

5. PLANEJAR O MODELO HÍBRIDO

Cobre de seus líderes a qualificação do local físico de trabalho, para que privilegie as interações entre times e até mesmo a ocasionalidade e espontaneidade de encontros não planejados entre pessoas de times diferentes. Construa, junto de seus líderes, um planejamento onde fiquem claros os motivos para os encontros presenciais, definindo os times envolvidos e os tipos de atividades que podem ser realizadas de forma remota. Todas as outras atividades, deveriam ser executadas de forma presencial. Nestes momentos, deve ser evitada a conexão virtual. Caso seja inevitável, é importante utilizar tecnologia adequada, que permita que o time presencial não utilize equipamento individual, que será utilizado apenas pelos membros remotos.

6. PERFORMANCE NO HÍBRIDO

Se você está entre os que acham que podem trabalhar somente de casa, prepare-se para trabalhar em uma empresa com cultura enfraquecida, pouco engajamento e com baixa performance. Empresas de alta performance têm liderança firme para definição das estratégias coletivas e entregam autonomia para seus líderes e colaboradores na etapa de execução. O sucesso está na execução de encontros de qualidade para o planejamento e definição de estratégias e planos, onde os times celebram juntos as conquistas, e na autonomia para a etapa de execução de tarefas, onde o trabalho pode ser executado em grupos pequenos ou de forma individual.

7. REMOTO E CULTURA ORGANIZACIONAL

Com o tempo, o modelo exclusivamente remoto corrói a cultura de uma empresa. O trabalho remoto precisa ser entendido como uma alternativa, um benefício, e não o contrário, onde o trabalho presencial parece uma punição. Não se constrói cultura forte com kits de boas vindas e happy hours online. Imagine um time de futebol que não tem estádio? Qual a identificação dos jogadores entre si, com o clube, os símbolos, as cores e, principalmente, com a torcida? Tradições são a soma de hábitos e rituais que precisam ser criados, transmitidos e executados em grupo, ao longo do tempo. Não se cria uma cultura de um hora para outra. E não se consegue impregnar uma cultura sem rituais e sem cumplicidade. Estes valores, dificilmente conseguem florescer através de reuniões via ZOOM ou Teams.

8. GURUS DO REMOTO

Cuidado com os gurus do trabalho remoto. A maioria deles tem uma postura agressiva sobre esta questão, criando um confronto entre empregados e empregadores. Poucos se posicionam de forma curiosa, que deveria ser o tom quando estamos falando sobre algo que ainda não está totalmente compreendido. A maioria dos que defendem o fim do trabalho em escritórios, são indivíduos que trabalham geralmente sozinhos, em casa ou em cafés, nunca tiveram a experiência de comandar uma empresa com mais de 20 pessoas ou times de alta performance, e com uma forte tendência a encarar o trabalho de forma transacional e individualista: trabalho com o que gosto, quando e onde gosto, para ganhar o meu dinheiro e viver a vida como quero. Não há nada de errado nisso! Mas pode apostar que, por trás disso, existem empresas de alta performance sustentando esse padrão. E está tudo ok. Existe espaço para quem busca mais tranquilidade, ou para quem busca mais performance e crescimento. A estes gurus, convido que montem uma empresa dentro do modelo que desejam para todos, e que contratem estas pessoas que acham que o trabalho presencial é uma punição dos empregadores.

9. REMOTO E A AMEAÇA AO APRENDIZADO

O mundo precisa da interação física por vários motivos importantes. Mas, entre eles, um é fundamental: o aprendizado é mais efetivo com as trocas presenciais. Você não acha estranho que as mesmas pessoas que pregam o fim do escritório são, normalmente, contra o ensino a distância? Como alguém que está iniciando sua vida corporativa poderá crescer sem contato com seus colegas? Se, mesmo com o contato físico, os estagiários e jovens aprendizes já ficam um pouco deslocados, imagine de forma remota! Simplesmente não funciona.

10. SUSTENTABILIDADE DO NEGÓCIO

Por fim, uma última provocação. Nenhuma atividade coletiva e colaborativa consegue ser melhor executada no formato remoto do que no presencial. Com tecnologia, conseguimos viabilizar a execução de forma online, mas nunca com os mesmos resultados que no modelo presencial. Na interação pessoal e física, a espontaneidade é muito maior, bem como é maior a qualidade das interações. A comunicação é muito mais clara e direta, sem perda de sinais. O modo assíncrono do remoto atende vários pontos do trabalho, mas nunca consegue chegar a conclusões e alinhamentos de forma mais rápida do que nas interações presenciais. Em empresas menores de alta performance, como as startups, fato é que, sem o escritório, alguns encontros para alinhamento e planejamento de visão de futuro nem acontecem! As pessoas estão tão focadas em executar suas tarefas individuais, que não param para atender as necessidades de alinhamento mais amplo. Agora, imagine este problema se estendendo ao longo do tempo: falta de comunicação, ampliação das individualidades, enfraquecimento dos processos, perda de cultura e queda no engajamento. Tudo isso junto, no longo prazo, pode resultar, até mesmo, no fim do negócio!

CASES DE SUCESSO: descubra porque o trabalho híbrido é recomendado por grandes empresas

Por fim, um apelo a colaboradores, empregadores e coordenadores de RH:
Você, coordenador de RH, se está buscando um ambiente de trabalho empolgante e de união, focado no crescimento e no desempenho com excelência, não caia no canto dos gurus do remoto. Trate o trabalho remoto como uma alternativa, um benefício.

Você, CEO, empreendedor, não se deixe iludir pela agenda dos gurus do remoto. Se você quer uma empresa sólida, com cultura forte, objetivos claros e colaboradores engajados e voltados ao sucesso, não abra mão do trabalho presencial. Adote o modelo híbrido para acomodar todos os desejos e tirar proveito dos benefícios do modelo, mas não se omita de planejar como este híbrido irá funcionar. Invista em um escritório que seja mais que um local de execução de tarefas, proporcionando opções para as diferentes personalidades e atividades. Crie rotinas, rituais e hábitos de trabalho colaborativo.

E por último, para você, colaborador, entenda que, mesmo com a chatice do deslocamento, encontrando seus colegas no escritório algumas vezes por semana, você estará colaborando mais para o desempenho de sua empresa e, em contrapartida, para o seu próprio sucesso. Caso você ache que nada muda estando em casa ou na empresa, sugiro refletir sobre seu real papel na companhia e sobre qual é a sua participação no futuro do empreendimento do qual você faz parte. De acordo com o tipo de ocupação, o percentual de tarefas individuais pode ser maior e, nestes casos, o trabalho remoto pode ser executado com maior frequência. Agora, se você é da área de vendas, marketing, planejamento, recursos humanos, facilities e todas que envolvam mais interação e muita tomada de decisão, vá para o escritório e crie relacionamentos fortes com seus colegas.

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